À memória do Chefe Amarante
Em vida foi sempre tratado por Chefe Amarante. Era meu Avô (“Avô-pá”, como nós, os netos, carinhosamente o chamávamos…).
Numa época em que tudo era difícil, este Português dos sete costados, nortenho (dos que trocam os “bes” pelos “vês”), republicano convicto, analfabeto e pelintra, desembarca em Macau nos alvores do século XX, soldado raso, fugido da miséria.
No sangue corria-lhe o estigma da ilegitimidade entre um pai, filho de boas famílias (...) e uma criada da quinta. No extremo oriente, conheceu o Amor, pela terra que o acolheu e enfeitiçou e por uma bela jovem luso-filipina que lhe deu oito filhos.
Finda a comissão de serviço militar, como tantos outros, por lá ficou. Ser Bombeiro foi a profissão possível. Aprendeu a ler e escrever o nome. Galgou a pulso todos os postos da Corporação de Bombeiros de Macau. Até o de Chefe.
Foi várias vezes condecorado e louvado por actos heróicos no combate aos incêndios. Era dos que diziam "SIGAM-ME!" em vez de "Vão!".
Já só me lembro dele reformado, sempre presente nas cerimónias oficiais, orgulhoso das suas medalhas e a hastear a Bandeira Nacional nos feriados civis.
Dele guardo a imagem de um Homem íntegro, recto, dos antes quebrar que torcer. Através dele vem-me o Respeito que tenho por TODOS OS BOMBEIROS, cujo Dia Mundial hoje se assinala.