Anda meio mundo a comentar em tom mais ou menos exaltado as imagens (chocantes?) postas a circular no YouTube sobre um episódio a envolver uma professora e uma aluna numa escola do Porto.
Os Professores devem estar mesmo em alta. De um dia para outro a Oposição descobriu, qual Cavaleiro Andante dos tempos medievos, uma Dama para defender. Uma parte da opinião pública comenta o que vai dentro das quatro paredes das escolas, que até agora, pouco mais serviam que para depósito dos seus filhos, desde que lá ficassem guardados das 8 às 19 e mais se fosse necessário e transitassem SEMPRE de ano, claro.
Meus Senhores, tirem o cavalinho da chuva, aquilo que viram e a alguns chocou, é um filme gasto, um triste e contínuo remake do quotidiano. ISTO É A INFELIZ REALIDADE de muitas escolas portuguesas. HÁ MUITOS ANOS.
Note-se que não estou a dizer que em todas elas as professoras são agredidas daquela forma, mas é um facto que o bullying não envolve apenas alunos. E se há algo que é uma indesmentível verdade, é que há alunos que, quando querem, sabem e conseguem ser muito cruéis. E a esmagadora maioria dos casos nem sequer sai das salas de aula. Os professores são tão vulneráveis como qualquer pessoa, têm família, muitos têm carro que são instrumentos de trabalho e também têm medo.
Nem me passa pela cabeça começar a dar exemplos do que sei. Mais depressa as pessoas que ainda estão a ler estas linhas deixariam de o fazer do que chegariam ao fim da lista.
Portanto, sejamos honestos e deixemo-nos de hipocrisias; fechem os olhos a estas imagens e abram-nos mais aos vossos filhos, vejam o que estão a fazer com eles e antes de irem exigir o que quer que seja aos professores, sejam os primeiros a dar o exemplo e sejam exigentes convosco próprios. Comecem por educar os vossos filhos em casa e nunca mais veremos imagens destas nas escolas.
Tivemos mais uma interpelação ao Governo. Respondeu (…) a Ministra da Educação.
A Oposição em bloco bombardeou a ME com questões que foram da avaliação dos Professores ao Ensino Especial e ao Artístico, da gestão e da autonomia aos problemas do Ensino Superior.
Interessa muito pouco que a Ministra não tenha respondido a nenhuma das questões colocadas. Com o seu ar delico-incomodada por estar ali, limitou-se a debitar uma cassette gasta, mas que até nem reflecte a realidade: mais alunos nas escolas, alunos a passarem mais tempo nas escolas, mais sucesso (entenda-se mais aprovações). Nem o ponto/muleta do Ministro dos Assuntos Parlamentares a tornou mais convincente.
Foram precisos dois anos e meio de luta e a maior manifestação de sempre dos Professores para vir a Oposição, em tempo de pré-campanha, defender a classe. Foi o ECD, foi a avaliação imposta, foi a imposição da gestão anti-democrática e o simulacro de autonomia escolar. Tudo passou ao largo da Assembleia da República.
Agora, receio que seja tarde. Como dizíamos aos alunos que chegavam sistematicamente atrasados: "Podem entrar, mas já têm falta..."
Com a sua estratégia habitual, o ME humilhou os professores, tratou-os todos abaixo de cão, virou a opinião pública contra a classe que na sua esmagadora maioria é honesta e competente (é o que diz a ME nos seus momentos de lucidez… ou de demagogia). A tensão aumentou. Quando já não era mais possível conter-se, 100 mil saíram à rua a protestar, vindos de todos os locais e regiões do país, de todos os quadrantes políticos, enquadrados ou não por sindicatos e outras organizações, independentes de qualquer estrutura, de livre vontade. Houve um palhaço que nos chamou “hoolligans”. A própria ministra disse que o número (100 mil!!!) era irrelevante. A política não se fazia na rua. Que se saiba, o 25 de Abril não se fez de forma palaciana. Quando o Povo não tem mais onde se manifestar, só lhe resta a rua. Assim foi com João das Regras, com Maria da Fonte, com o 5 de Outubro de 1910.
Os efeitos não serão imediatos. Vai levar algum tempo até os encarregados de educação e a opinião pública em geral, aperceber-se, que, o Ministério da Educação, ao atacar os professores, sujeitando-os a directivas, que no mínimo são profissionalmente humilhantes, estão a lesar os seus próprios educandos. É muito bonito dizer que agora há mais gente nas escolas e que aumentou o sucesso escolar, mas não dizem é à custa de quê. Quando verificarem que os alunos que agora transitam (todos os professores sabem como…) têm uma “certificação”, mas que não corresponde necessariamente a uma “qualificação”, em comparação com os seus colegas europeus, nessa altura, voltar-se-ão novamente contra os Professores, que são umas bestas que não os ensinaram. Nessa altura, ninguém mais se vai lembrar da “Milu” nem do “Bobby”, nem do “Tareco”, muito menos do “Mãozinhas de Veludo”. Nessa altura, os que nos atacam neste momento, talvez se interroguem se nem tudo seria como foi apresentado, mas o mal já foi feito.
Não me transmitiste os teus genes. Nem por isso precisaste do ADN para me dares aquilo que consideraste o mais importante para eu ser o que sou hoje. Acredita que, como depositário, vou retransmitir às minhas filhas esses mesmos valores, esse mesmo sentido de vida, a tua postura.
Quando partiste, nada ficou por dizer entre nós, mas sinto a tua falta, o teu apoio.
É por tudo isto que hoje, quero dizer-te que tenho muito orgulho em ser teu filho e que, esteja onde estiveres, nunca me cansarei de te chamar Pai.
E fizemos muito mais. Desde as 14H45, início da manifestação, durante quatro longas horas, do Marquês e seus acessos, ao Terreiro do Paço, foi um “tsunami” compacto de Professores, bandeiras e faixas.
Soubemos mais tarde que atingimos os 100 mil participantes (Portugal tem 140 mil professores…). O Ministério da Educação reconheceu 80 mil!
Desde os tempos do PREC que a mítica Avenida da Liberdade não assistia a um desfile desta envergadura. A manif ultrapassou todas as expectativas. Até as mais optimistas.
No Terreiro do Paço, já as intervenções dos representantes das estruturas organizadoras iam a meio e na Avenida Fontes Pereira de Melo ainda se esperava para descer a Avenida. Quando as intervenções terminaram cerca das 18H45, a retaguarda da Marcha ainda não tinha entrado no Terreiro.
Em todos tocou fundo a Marcha. Ao longo da Avenida, foram muitas as palmas de apoio de populares. Foram muito calorosas as vozes de incitamento dos militantes do PCP que em frente da sua sede nos encorajaram. Foram os anónimos, com cartazes de apoio. A opinião pública começa a aperceber-se que algo não está bem nas relações deste Ministério da Educação com os seus Professores.
Apesar das vozes de ordem e da animação constante, principalmente dos Colegas do Norte, a Marcha foi tudo, menos alegre. Por detrás daquelas vozes, das risotas e piadas, havia o lado sombrio nos rostos sofridos dos que têm sido sujeitos às maiores humilhações e desconsiderações, suportadas à custa de muito profissionalismo e vocação. Foi talvez a maior demonstração de Unidade de uma classe que nunca primou pela união, mas que, desta vez, esta Ministra conseguiu o milagre de unir.
Durante as intervenções, alguém pediu um minuto de silêncio em memória dos Colegas, doentes terminais, falecidos em exercício, porque lhes foi recusada a aposentação pelas juntas médicas. Foi um momento impressionante. Se as lágrimas que assomaram aos olhos de muitos caíssem no chão, teriam sido ouvidas.
Neste momento sabemos que a Ministra já disse que nada vai ser alterado, que as suas reformas iam continuar, apesar de ir contra dois terços dos Professores. Disse que não ia mudar “… ao menor protesto… à menor contestação…”.
Errou. Foram 100 mil protestos, foram 100 mil contestações.
Nós enchemos a Avenida, do Marquês ao Terreiro do Paço, para lhe dizer:
Nós temos razão. A luta continua!
Os Professores preparam-se para fazer da jornada do dia 8 de Março, a MAIOR MANIFESTAÇÃO da classe jamais feita.
As estruturas sindicais já foram ultrapassadas. As manifestações, vigílias, marchas e concentrações destas últimas semanas vieram mostrar que numa coisa o Ministério da Educação teve um mérito incontestável: UNIU OS PROFESSORES. Sindicalizados e não. Do BE ao PP, com PC, PS e PSD pelo meio.
O descontentamento que vinha aumentando gradualmente está a atingir níveis nunca antes alcançados.
O congelamento das carreiras, a imposição do Estatuto da Carreira Docente, a fractura da carreira em titulares e professores, a gestão das escolas e o modelo de avaliação são apenas partes do problema. A humilhação permanente do professor perante a opinião pública, a desvalorização do seu papel, feriram bem fundo a dignidade dos que fizeram da sua profissão a razão das suas vidas e por ela fizeram opções e investiram o máximo de si.
A Ministra da Educação vai nesta semana, como já é hábito, em vésperas de manifs e greves, desdobrar-se em acções de marketing e de charme. À falta de melhor, foi ouvir um rasgado elogio de um tal Valentim Loureiro e receber a vassalagem do Presidente da Confederação das Associações de Pais. Quinta-Feira, na Grande Entrevista da RTP1, vai de mãos postas, qual virgem ofendida, tentar desmobilizar a Marcha da Indignação de Sábado com mais algumas cedências tácticas, para mostrar que até é cordata e os Profs é que são bestas e se deixam manipular.
Os organizadores esperam 25 mil manifestantes. Penso que estão a ser cautelosos. Vamos ser mais.
Já ouvi dizer que nisto tudo, ninguém fala dos Alunos. Mas quem diz isso esquece-se que os Professores também são Pais. Curiosamente, a nova gestão das escolas que tanto defende a papel dos Pais, ESQUECE que os Professores estão arredados deste processo, porque nada foi previsto no ECD a permitir a sua participação enquanto Pais.
A Escola não é dos Professores, mas sem Professores a Escola não existe.
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